Tarifa de ônibus é reajustada, mas não atende necessidades do setor
18 de agosto de 2017Brasil pode ter transporte público de melhor qualidade se tiver investimento certo
30 de agosto de 2017O cenário econômico do país ainda é de crise. A sucessão das dificuldades enfrentadas pelo setor reflete diretamente no desempenho operacional e na situação financeira das empresas de transporte público de passageiros por ônibus. Nos últimos anos, o número de usuários do transporte coletivo caiu consideravelmente. Somente em 2016, o setor perdeu quase 300 milhões de passageiros, uma queda de 8,2% em relação a 2015, segundo o Anuário da NTU.
A diminuição no número de usuários pagantes causa grande impacto no setor, visto que o custo por passageiro aumenta e, consequentemente, há um desequilíbrio econômico-financeiro a ser enfrentado pelas prestadoras de serviço. A recente pesquisa do Instituto FSB Pesquisa Situação econômico-financeira das empresas de transporte público urbano”, contratada pela NTU, revela dados preocupantes. De acordo com a publicação, 37% das empresas consultadas possuem dívidas tributárias com a União e 20% delas com os municípios.
O diretor administrativo e institucional da NTU, Marcos Bicalho, explica que desde 2013 o setor tem passado por mais dificuldade para se equilibrar não só devido à crise, mas pela falta de priorização do transporte público. “Os congestionamentos resultam em um ciclo vicioso, pois quanto mais automóveis, maiores os congestionamentos e o custo dos ônibus e menor a qualidade do serviço, levando mais pessoas a sair dos ônibus”, diz Bicalho.
Indicadores de desempenho
O Anuário 2016-2017, apresenta o comportamento de onze indicadores, apurados anualmente em nove capitais brasileiras, nos meses de abril e outubro. Entre os índices levantados estão a quilometragem produzida, índice de passageiros por quilômetro (IPK), passageiros transportados por veículos, preço médio do óleo diesel e outros.
A quilometragem produzida em 2016 foi reduzida em 2,0% em relação ao ano de 2015, considerando a média dos meses de abril e outubro. Esse comportamento aponta para uma tendência de redução da oferta de serviços nos anos mais recentes.
A produtividade do setor também ficou prejudicada. A análise consolidada dos meses considerados indica uma redução de 6,2% do índice de passageiros equivalentes (IPK) no ano de 2016 em comparação com 2015.
De acordo com a publicação, “após um pequeno aumento de eficiência conseguido em 2013, foram três anos de queda do principal indicador de produtividade do setor. Nos anos de 2014 e 2015 foram registradas diminuições de 1,2% e 3,59%, respectivamente”.
Ainda falta investimento
Nos últimos anos, a população cobra insistentemente um transporte público de qualidade e menor custo, mas isso depende essencialmente de uma infraestrutura adequada, que priorize o transporte coletivo no sistema viário. Infelizmente, o nível de investimento público no setor é ainda muito baixo.
Para o presidente executivo da NTU, Otávio Vieira da Cunha Filho, a situação é grave e a falta de investimento público cada vez mais preocupante. “Entre 2009 e 2017 foram destinados R$151 bilhões para investimentos na infraestrutura da mobilidade urbana, mas só R$14 bilhões foram realmente aplicados, ou seja, menos de 10% “, diz.
Ele ainda explica que os investimentos estão paralisados desde o fim dos eventos esportivos sediados no Brasil. “A questão é que sem os recursos oriundos dos orçamentos públicos, o setor não consegue avançar nos níveis de qualidade dos serviços”, afirma Cunha.
Fontes de custeio da operação
O aumento da tarifa em 2013 foi o pontapé para as exigências sociais quanto à qualidade do serviço, mas a única alternativa adotada até então é o reajuste no valor da tarifa. Atualmente, a Cide Municipal é uma esperança para o setor. A proposta que está em tramitação no Congresso Nacional autoriza municípios e o Distrito Federal a criarem um imposto para custeio do transporte público.
O investimento em infraestrutura e a priorização do transporte coletivo são indispensáveis para que o transporte público possa atender as necessidades da sociedade. Otávio Cunha reforça que com a tarifa como única forma de subsídio para o transporte público não é o suficiente para alcançar os resultados.
“O modelo atual está totalmente esgotado. Não dá para oferecer um transporte coletivo de qualidade enquanto a tarifa for a única fonte de custeio. É preciso descobrir novas formas capazes de complementar as tarifas pagas pelos usuários visto, que transporte de qualidade custa caro e os usuários não conseguem pagar sozinhos”, reforça o presidente executivo da NTU.
Matéria publicada na revista NTU Urbano edição julho/agosto 2017