Na eterna disputa com o transporte individual, o coletivo urbano continua na lanterna

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Falar em custo de qualquer bem ou serviço normalmente gera polêmica. No caso do transporte público por ônibus gerou protestos. Agora, no segundo turno da campanha eleitoral para presidente da República, é hora de debater o assunto e priorizar o transporte público nos programas de governo desses candidatos. Responsáveis pelo deslocamento diário de 40 milhões de passageiros, as operadoras dos serviços, representadas pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), fizeram o dever de casa: colocaram no papel propostas para resolver os nós da mobilidade urbana, com foco nos deslocamentos urbanos por ônibus.

 

No documento direcionado aos presidenciáveis o setor credita à falta de investimentos públicos, o principal motivo de o segmento nunca ter avançado para conseguir atender as demandas da sociedade. Lá se foram mais de duas décadas de estagnação, sem políticas públicas adequadas às reais necessidades do cidadão que utiliza coletivos urbanos no dia a dia, o que acarretou, só ano passado, a evasão diária de 560 mil passageiros.

 

Na eterna disputa com o transporte individual, o coletivo urbano continua na lanterna, perdendo para os vultosos investimentos do Estado em reduções de impostos para a compra de automóveis e de motocicletas. O corte de impostos, a facilidade de financiamentos e subsídios à gasolina, promoveu incremento de 114% na frota de automóveis e de 398% na de motocicletas, no período de 2000 a 2012, segundo números do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

 

O dado assusta e ameaça as contas do setor, que agora se vê de mãos atadas, tentando conciliar a demanda por tarifas justas e os parcos subsídios do governo ao transporte público. Com a consciência de que a conta das melhorias é alta e urgente, a NTU já se posicionou sobre o que precisa ser feito para o segmento sair dessa camisa de força. Nas contas da NTU, é necessário investir também em projetos estruturantes – aqueles com prazo maior de execução, como BRT, VLT e metrô. Para esse caso, o setor estima que seriam necessários R$ 50 bilhões, por ano, nos próximos dez anos.

 

Qualidade requer investimentos e o segmento entende que para que eles não pesem tanto no bolso do cidadão, não existe outra saída, senão a da subvenção pública, realidade observada na maioria dos países desenvolvidos. O segmento não ignora os avanços conquistados com a Lei da Mobilidade Urbana e as boas expectativas geradas pelos 215 projetos estruturantes em andamento, de acordo com os quatro programas desenvolvidos pelo governo federal.

 

Eles contemplam 34 projetos de BRT (Bus Rapid Transit), 75 de corredores de ônibus, 3 de trens urbanos, 11 de metrô, 9 de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), 38 de obras viárias e mais 45 projetos envolvendo outras modalidades, alguns já inaugurados e em operação. Mas a maioria ainda está na fase de ação preparatória. Para que essa realidade comece a mudar, o segmento espera que o transporte público coletivo urbano seja visto como fator fundamental para o desenvolvimento econômico e social da nação. Para isso, é preciso que haja atitude nas três esferas de governo.

 

Otávio Vieira da Cunha Filho- Presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU

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