Transporte público de qualidade no Brasil, sonho ou realidade?

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Quem acompanha o noticiário brasileiro certamente se deparou com uma notícia um tanto inusitada nos últimos dias. As manchetes anunciavam a nova postura do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Ele decidiu utilizar o transporte público diariamente no seu percurso de casa para o trabalho.

 

Demagogia ou apenas uma atitude diferente enquanto cidadão? Eis a questão.

 

O fato é que o uso do ônibus pela população tem sido uma das principais bandeiras do prefeito, que instituiu faixas exclusivas em importantes vias da cidade e ainda promete entregar 150 quilômetros de corredores de ônibus até o final de seu mandato.

 

É claro que para a campanha surtir efeito, a equipe que dirige o governo deve dar o exemplo, não é mesmo? Para isso, Haddad estuda baixar um decreto obrigando os secretários municipais e seus assessores a irem para o trabalho todos os dias de ônibus. Isso mesmo, um decreto!

 

A medida não deve estar agradando nem um pouco os políticos paulistanos que, indubitavelmente, preferem a comodidade dos carros oficiais e helicópteros. Além disso, fica a dúvida: até quando a “aventura” do prefeito nos ônibus da cidade vai durar? Afinal, quase tudo o que começa no Brasil infelizmente acaba esquecido no meio do caminho. Entretanto, enquanto essa questão se destaca, o governador Geraldo Alckmin entra na onda e vem analisando a possibilidade de utilizar o metrô ou trem para ir ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo na capital paulista.

 

A iniciativa dos políticos paulistanos pode ser pioneira no país, mas em grandes capitais europeias isso não é novidade. Um dos maiores exemplos é Londres. Na terra da rainha, o prefeito Boris Johnson costuma se deslocar para o trabalho de metrô ou bicicleta. Ele e os vereadores da capital britânica recebem um vale-transporte anual válido para ônibus, metrô e trens. Ao tomar posse, todos são avisados que o uso do transporte púbico é uma das obrigações do cargo. Aliás, lá o município só reembolsa despesas com taxi caso as autoridades provem que realmente não tinham uma opção de transporte mais barata. Nos Estados Unidos, o bilionário prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg, também é conhecido por usar o metrô para trabalhar.

 

A grande diferença é que utilizar o transporte público nas grandes cidades brasileiras muitas vezes corresponde a um pesadelo cotidiano. Em São Paulo, por exemplo, 55% dos usuários consideram o serviço de ônibus ruim ou péssimo, já o metrô consegue nível de satisfação um pouco melhor, com 32% satisfeitos para 34% que o categoriza de péssimo, segundo dados da DataFolha. Falta de conforto, super lotação, itinerários que não correspondem às necessidades da população, as longas esperas nos pontos de ônibus e a lentidão são apenas alguns problemas que fazem parte da rotina do brasileiro.

 

Não é à toa que uma das primeiras coisas que se observa ao chegar em Dublin é justamente a diferença na qualidade do transporte público, o que já foi abordado no E-Dublin Tv. Na ilha da esmeralda os famosos ônibus de dois andares são novos, confortáveis, geralmente não estão lotados e muitos possuem até wifi gratuito. Esperar séculos nos pontos de ônibus é algo que acontece raramente, já que os horários são seguidos rigorosamente e podem ser acompanhados em painéis eletrônicos. Atrasos, claro que acontecem, mas também são esporádicos. As mesmas regras valem para os trens, aqui chamados de DART, e para o LUAS, o metrô de superfície.

 

O resultado é uma população satisfeita com o serviço, o que reflete em seu comportamento, já que dificilmente alguém tira vantagem da baixa fiscalização e ausência de catracas para utilizar os meios de transporte sem pagar a tarifa que, deve-se dizer, não é das mais baratas.

 

É importante pontuar que mesmo apresentando muito menos deficiências que o sistema brasileiro, o tranporte irlandês não é perfeito, sem falar que estamos falando de um país com proporção infinitamente menor que o Brasil. Nos últimos dois anos, por exemplo, a população tem sido afetada com vários aumentos decorrentes da crise econômica. No entanto, exemplos como o projeto Smarter Travel, que propõe metas para um sistema de transporte sustentável até 2020, deixam claro o real comprometimento do governo em busca de melhorias. Neste projeto existem várias propostas para a conscientização pública, uma delas é o incentivo ao uso de bicicletas, que no país é bem regulamentado.  Além disso o projeto trata de questões como a redução de gases poluentes e busca saídas que contribuam com a diminuição dos congestionamentos.

 

Enquanto na Europa médicos, advogados e até políticos utilizam bikes e metrôs como meio de transporte, no Brasil os ciclistas ainda lutam desesperadamente para, pelo menos, serem respeitados no trânsito. No nosso Brasil o poder aquisitivo melhorado tem provocado o uso indiscriminado de carros, o que contribui significativamente para o aumento da poluição e dos congestionamentos. Os financiamentos de 60 parcelas para a compra de carro zero tem atraído um número cada vez maior de motoristas, porém, na contramão pouco tem sido feito ou proposto para apasiguar as consequências do aumento substancial de carros nas ruas.

 

Já foi comprovado com exemplos até mesmo no Brasil , no caso de Curitiba -considerado o melhor sistema de transporte do país, que a prioridade deveria ser o transporte público de qualidade, questão que foi amplamente levantada durante os já considerados históricos protestos contra o aumento das tarifas nos ônibus que percorreram o país de norte a sul. As tarifas não sofreram o aumento planejado em boa parte das cidades brasileiras, é verdade, mas nos resta saber se esse foi o começo para que nossos governantes proponham um sistema de transporte mais eficiente, ou apenas um cala a boca para acalmar os ânimos da população saturada pelo descaso.

 

E voltando a pergunta do início do post: E o prefeito Haddad? Está apenas interessado em utilizar o assunto da onda ou vai efetivamente ser capaz de proporcionar um sistema de transporte mais satisfatório para a população paulistana?

 

Fonte: www.e-dublin.com.br

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