Vale transporte, quem tem direito?
24 de novembro de 2003Excesso de gratuidades penaliza usuários de ônibus
13 de fevereiro de 2004A mobilidade urbana em nosso país obedece a uma política não explicita, centrada na existência de um único modo de transporte, que é o automóvel, com efeitos perversos para os seres humanos no que tange a segurança e à qualidade de vida. Onde vai circular tanto automóvel? Mantidas as estimativas de crescimento de 2,5% da população urbana brasileira e de três por cento no numero de veículos, a frota, atualmente de trinta milhões de veículos, passará a ser de quarenta milhões em 2010 para uma população de 165 milhões de habitantes, contra os 138 milhões atuais. Esse quadro indica um futuro bem diferente do prometido pela publicidade da industria automobilística, que associa o automóvel à valorização social e à ampla e irrestrita acessibilidade. Efeitos dos congestionamentos e da poluição O modelo de mobilidade apoiado no uso intensivo do automóvel mostra que, as condições de vida tornaram-se precárias em razão dos congestionamentos, poluição e acidentes. Os congestionamentos, nos níveis que se fazem sentir nas duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro ? conforme o evidenciado no estudo Redução das Deseconomias Urbanas com a Melhoria do Transporte Público, realizado pela ANTP e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ? Ipea (1998) ? é um fenômeno que pode rapidamente se estender para outras grandes cidades brasileiras. Esses congestionamentos já representam, para dez cidades do estudo, 506 milhões de horas gastas a mais, por ano, pelos usuários do transporte coletivo, 258 milhões de litros gastos a mais por ano e a população ambiental que pode ser medida em 123 mil toneladas de monóxido de carbono e onze mil toneladas de hidrocarbonetos, jogados na atmosfera. Mais custos para o transporte público A tais efeitos, adicionam-se os prejuízos causados ao desemprego dos ônibus urbanos, principalmente a redução da sua velocidade, em decorrência da ocupação das ruas pelos automóveis. Com isto, aumentam os custos do transporte público. A poluição causada pelos automóveis, no tocante a saúde, ainda é tratada com descaso: apenas dez por cento dos carros em circulação no mundo estão equipados com catalisadores, que reduzem trinta vezes o nível de monóxido de carbono emitido por automóveis. O monóxido de carbono é um agente poluidor que afeta, principalmente, os indivíduos com problemas e cardíacos. A MOBILIDADE que queremos Setores significativos da sociedade começam a clamar por uma nova cultura de mobilidade, que promova a apropriação eqüitativa do especo e do tempo na circulação urbana, priorizando os modos de transporte coletivo, a bicicleta e os deslocamentos do transporte coletivo, a bicicleta e os deslocamentos em relação ao transporte particular. Essa nova forma de ver a mobilidade deve promover o reordenamento dos espaços e das atividades urbanas, de forma a reduzir as necessidades de deslocamento motorizado e seus custos, e a construir espaços e tempos sociais em que se preservem, defendam e promovam a qualidade do ambiente natural e os patrimônios históricos, culturais e artísticos das cidades e dos bairros antigos. A mobilidade urbana é, ao mesmo tempo, causa e efeito do desenvolvimento urbano e integra as ações dos principais agentes e fatores que afetam a forma como a cidade se desenvolve. Espaço urbano e tempo, bens insubstituíveis. A deterioração da qualidade humana de vida nos grandes centros urbanos brasileiros, em que pesem as suas múltiplas causas, pode ser detida em grande parte, através da adoção de uma política de mobilidade urbana que considere o espaço urbano e o tempo como bens escassos e não substituíveis. A prioridade do atendimento à circulação do pedestre e de bicicletas, a recuperação das áreas verdes, hoje comprometidas por causa dos estacionamentos, e o aumento da acessibilidade as diferentes áreas da cidade são itens essenciais para uma mobilidade urbana que assegure o acesso a todos àqueles equipamentos de interesse coletivo como universidades, centros esportivos e culturais, museus e parques, além dos locais de trabalho. A estas ações deve ser combinada a oferta de diferentes modalidades de transporte público, integrados em rede gerenciados de forma a propiciar uma apropriação eqüitativa do sistema viário.