Transporte público de qualidade no Brasil, sonho ou realidade?
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18 de março de 2014Na última terça-feira, 11, quando saía do shopping Eldorado, em São Paulo, deparei-me com um veículo oficial estacionado na vaga preferencial imediatamente ao lado do meu carro e verifiquei que se tratava de nada menos que o veículo da ministra da Cultura, Marta Suplicy.
Imediatamente, saquei a minha câmera fotográfica e registrei o fato descabido e desrespeitoso. Uma reportagem com a fotografia foi publicada por esta Folha ontem e teve grande repercussão. O ministério informou que o motorista do carro que levava Marta foi advertido pela grave falha.
Eu podia dar-me por satisfeito com o resultado da minha atitude, mas, como estou há anos sofrendo com esse problema de ocupação indevida de vagas preferenciais, resolvi iniciar uma jornada para organizar uma campanha nacional de conscientização e de respeito às vagas preferenciais.
De acordo com o portal Mobilidade Urbana Sustentável, algo entre 700 e 800 milhões de pessoas –10% a 12% da população mundial– têm alguma deficiência física. Dessas, 90% vivem em países em desenvolvimento, estão em idade produtiva, mas vivem desempregados.
A Prefeitura de São Paulo está preparando um site para dar continuidade ao censo da população com deficiência, e a estimativa é que vivam na capital paulista cerca de 2,7 milhões nessa condição, a maioria usuária do transporte público. É muita gente para uma cidade repleta de barreiras físicas e muitas vezes também culturais.
A compreensão sobre a deficiência, ainda segundo o Mobilize, vem evoluindo. Cada vez mais, entende-se que uma deficiência física não é apenas uma condição estática: a deficiência e sua gravidade dependem do ambiente em que a pessoa vive.
Se as cidades oferecessem condições para uma pessoa em cadeira de rodas sair de casa e chegar, em tempo razoável, a um local de trabalho digno e, depois do expediente, ir ao cinema e achar um lugar bom para assistir ao filme, essa deficiência já não seria qualificada como tão grave nos índices de mobilidade.
Por outro lado, os deficientes que possuem seus veículos, muitas vezes adaptados, têm o direito adquirido às vagas preferenciais que exibem o sinal internacionalmente aprovado pela ONU. Porém, é frequente a ocupação indevida dessa vaga, muitas vezes por motocicletas. Acontece também de o estabelecimento que se presta a disponibilizar uma vaga a portadores de deficiência inexplicavelmente obstruí-la com correntes.
Já passei por inúmeras situações de constrangimento, tendo inclusive sido agredido física e moralmente. Na tentativa de reverter esse quadro triste e decepcionante, proponho uma campanha educacional de abrangência nacional para promover a conscientização da população.
Precisamos de filmes exibidos na TV e nos cinemas, de placas e panfletos nas ruas e nos estacionamentos, artigos e reportagens nos jornais e revistas e sobretudo de educação sobre o trânsito nas escolas.
Qualquer pessoa pode tornar-se um deficiente físico. Basta uma fração de segundo para que acidentes de qualquer natureza aconteçam. Pessoalmente, torço para que você, caro leitor, permaneça com a sua mobilidade física integral e jamais precise usar uma vaga preferencial.
RALF ZIETEMANN, 65, aposentado por invalidez, é químico e músico multi-instrumentista