Perigo sobre duas rodas
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25 de janeiro de 2012Mobilidade urbana e sustentabilidade ambiental são duas das prioridades escolhidas pela população de São Paulo para a cidade que desejam habitar em 2040. A conclusão está na consulta pública SP2040, realizada pela prefeitura da cidade com apoio de especialistas da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP). Foram ouvidas 25,3 mil pessoas, em audiências públicas, workshops, seminários e pela internet. O objetivo é construir uma visão estratégica de longo prazo para o município, com análises e proposições focando um horizonte temporal para o ano de 2040.
Os resultados agregados divulgados no site do projeto mostram que 25% dos cidadãos ouvidos querem uma São Paulo fluida em 2040, enquanto 20% priorizam a sustentabilidade e 15% querem uma cidade justa. Entre os principais desafios da cidade para atingir esses objetivos, a campeã de citações foi a promoção de uma infraestrutura urbana adequada (23%), seguida pela recuperação da qualidade ambiental e aproximação moradia de emprego (empatados em 21%) e a promoção da inclusão social (19%).
O SP2040 possui ainda alguns “projetos catalisadores”, considerados fundamentais para alcançar os objetivos do plano até 2040. “Eles estabelecem os chamados efeitos irradiadores, ou seja, projetos com potencial de transformar diversos setores da cidade, irradiadores de desenvolvimento e qualidade de vida e, ao mesmo tempo, geradores de empregos e oportunidades”, afirma o site do SP2040.
Na pesquisa, os dois projetos mais citados são realmente interessantes. O mais lembrado é chamado Cidade de 30 Minutos (20,1%), que se baseia em “aproximar, no tempo e no espaço, os moradores da cidade de suas atividades cotidianas, sobretudo, no que diz respeito ao movimento casa-trabalho-casa.” A mudança seria baseada tanto em uma nova distribuição dos meios de transporte quanto em uma mudança na distribuição das atividades econômicas no território do município. Um belo conceito para se iniciar um projeto de mobilidade.
O segundo projeto mais citado foi o Rios Vivos (19,9%), que propõe “uma ampla rede de parques lineares, ancorados na transformação urbana e ambiental dos dois principais rios paulistanos, o Pinheiros e o Tietê.” A ideia é recuperar os dois rios e transformá-los em espaços de lazer para a população e “parte importante da infraestrutura verde da cidade”. Ainda segundo o site, “a realização dessas ações originará uma nova relação entre a cidade e seus rios e vai alterar sua paisagem urbana, preparando São Paulo para os desafios climáticos previstos para este século.” Outra intenção maravilhosa, que aumentaria a área verde, melhoraria a qualidade de vida da população (quem já sentiu o cheiro do rio Pinheiros numa tarde de verão sabe do que estou falando) e ainda atacaria o problema das enchentes, gerando mais áreas para a vazão da água das chuvas.
É curioso, no entanto, notar que as linhas gerais dos dois Projetos Catalisadores não têm aparecido nas políticas efetivadas pela gestão atual da prefeitura de São Paulo. Gilberto Kassab (bem como seu antecessor e padrinho político, José Serra) pouco fez para melhorar a mobilidade urbana, tendo, por exemplo, interrompido a expansão dos corredores de ônibus na cidade. Quanto aos rios, o alagamento do Jardim Pantanal, em 2010, em boa parte por falta de recursos para a mera limpeza do leito do Tietê, fala por si só – mas ainda temos a ampliação da marginal, medida do então governador Serra de efeitos praticamente nulos sobre o trânsito, mas que ajudou a impermeabilizar mais uma boa parte do solo das margens do rio.
Ceticismo a parte, o passo do planejamento é fundamental e a simples visão de que a cidade necessita desse tipo de discussão é algo positivo. E se os governantes não cainharem na direção cobrada pela população, sempre temos as eleições para reforçar o recado.
Fonte: Rede Brasil atual