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Mobilidade urbana é o assunto do momento. Não injustificadamente, o tema é tratado, se não como ponto principal, como uma das abordagens de quase todos os debates relativos ao urbanismo nas cidades. Em Porto Alegre, com a proximidade cada vez maior da Copa do Mundo de 2014 e da implantação do projeto conhecido até agora como Portais da Cidade, a questão tem ganhado uma atenção ainda mais especial.
Foi para debater de forma mais expressiva o assunto, desta vez trazendo a experiência do que está sendo feito em outras cidades do continente, que a prefeitura da Capital, através da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), realizou ontem o seminário Mobilidade Urbana e Inclusão Social, no Hotel Embaixador, no Centro.
Nós, que vivemos na cidade, muitas vezes não percebemos como o tema mobilidade tem relação com inclusão social. Ao falar sobre isso, nos referimos à necessidade de transporte coletivo de grande qualidade. A grande inclusão está quando o olhar do governante volta-se para a maioria da população, afirma o prefeito José Fortunati. Para ele, a discussão em conjunto com o conhecimento da realidade de outras cidades enriquece o debate e as ações práticas. Todas as cidades têm problemas comuns e podem resolver isso de modo comum, respeitando as suas peculiaridades locais, diz.
O prefeito de Estácion Central, na província de Santiago, no Chile, destaca a importância da cooperação entre as cidades para a construção de soluções adequadas para todos. Muitas vezes falamos só de mobilidade ou só de inclusão. Em países como os nossos, estamos obrigados a fazer a discussão conjunta dos temas, observa.
A palestra do superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Marcos Bicalho, que abriu o evento, foi o centro das atenções. Para o arquiteto e urbanista, é necessária uma grande transformação no modo como os governantes olham para as suas cidades. Sem isso, segundo ele, nenhuma ação localizada irá resolver por completo e de modo generalizado o problema da circulação urbana. Estamos perdendo a guerra contra o modelo falido de mobilidade que temos, enfatiza.
Conforme o especialista, as políticas públicas têm de ser feitas prioritariamente focando o transporte coletivo e não o individual. Hoje, o uso do transporte coletivo corresponde à metade das viagens motorizadas e gera um impacto para a cidade muito menor. Quando uma pessoa compra uma moto, passa a poluir quatro vezes mais e triplica a ocupação do espaço urbano em relação à época em que utilizava o transporte coletivo, diz Bicalho. Ele faz isso, compra e se utiliza do transporte individual, porque gasta menos e ganha tempo. Com o cenário atual, qualquer um de nós prefere usar o seu veículo a usar o coletivo. Estamos atuando ineficazmente e com políticas públicas equivocadas, completa.
Bicalho dá ênfase ao fato de atualmente ser mais vantajoso para o cidadão utilizar o transporte individual. É mais barato e mais rápido usar o individual, isso sem contar as questões de conforto e status. O mercado percebe essa realidade e atua incentivando a compra de veículos. O quadro não mudará através do apelo emocional para as pessoas deixarem seu veículo em casa. Elas somente farão isso se for melhor para elas e é responsabilidade dos gestores fazer com que seja melhor, ressalta.
Conforme um estudo da ANTP, realizado em março deste ano, os custos para se fazer uma viagem urbana de sete quilômetros em Porto Alegre, utilizando-se diferentes modos de locomoção, são de R$ 2,50 de ônibus, R$ 3,42 de moto, R$ 5,39 de carro a gasolina e R$ 6,21 de carro a álcool. Em razão disso, a questão também tem um cunho econômico muito forte.
Para o dirigente da entidade, a solução não está na ampliação das obras viárias. Elas podem ser necessárias, mas não são a solução, diz. Segundo ele, essas obras custam muito e acabam gerando mais fluxo viário. A solução está em uma mudança radical, direcionando a população para o uso do transporte coletivo. E, quando falamos em transporte público, é fundamental que qualifiquemos o espaço do pedestre e direcionemos um cuidadoso olhar para as bicicletas. O fato é que não vamos acabar com os congestionamentos em um curto prazo de tempo, afirma.
Bicalho enfatiza a necessidade de que as autoridades tenham uma postura ativa e ajam de forma radical, mesmo que isso mereça a reprovação de partes da população. Não podemos esperar 20 anos para ter um qualificado transporte público. É preciso ter coragem para reduzir o uso de veículos individuais, mesmo que, para isso, seja preciso agir de forma antipática.
Fonte: Jornal do Comércio